Após a reza, Saw ligou o rádio para se actualizar, como era seu hábito. A rádio francesa, debitando as noticias Europeias, no meio do nada… Também o zurrar dos burros, que mais parecia terem um megafone nos despertou sucessivamente.
Por volta das 6:30 saímos da tenda e tiramos algumas fotos. Até Cumba Jalo, a senhora de 105 anos, ficou contente ao ver-se na máquina… riu-se quando tentou falar francês!
Antes de arrumar a tenda, trouxeram-nos água quente e café solúvel que tomamos sentados junto do chefe. Demos uma volta pela aldeia. Saw orientou-nos e apresentou-nos a pessoas, amigos de família e outros habitantes locais.
As pessoas da aldeia muito simpáticas, pareciam já conhecer-nos. A aldeia é bonita, com as suas construções de adobe. Há 3 mesquitas, mas às sextas-feiras todos rezam na maior. Nas praças das aldeias, havia uns estrados feitos de madeira tosca, cobertos com um telhado, onde homens sobretudo mais velhos descansavam, conversando e olhando!
Chegou a hora de partir, arrumamos tudo e despedimo-nos com uma fotografia de grupo. Recompensamos toda a simpatia ao chefe da aldeia, que ficou contente. Com o que lhe demos tinha possibilidade de comprar muito arroz para família. Foi o que nos pedi, um saco de arroz, enquanto estendia a mão com um punhado do cereal!
Saw acompanhou-nos no carro até á saída da aldeia, indicando-nos o caminho a seguir. Despedimo-nos dele e entreguei-lhe um brinquedo para o seu filho doente. Agradeceu e notou-se o contentamento.
Poucos metros a frente havia já dois caminhos, Não sabíamos qual deles seguir, pois pareciam iguais. O que nos valeu foi um grupo de 5 ou 6 miúdos, com as cabras, os pastores da aldeia. Eles sim nos disseram que estamos enganados e orientaram-nos correndo ao lado do carro, através do mato até á estrada de terra batida que supostamente nos levaria a Kayes. Tinha mais lógica, batia certo com a bússola que tínhamos, por isso confiamos na opinião deles e seguimos caminho.
O percurso muito atribulado. Oitenta e quatro km de solavancos. A paisagem dominada por baobás e respectivas sombras (baobabshadow). Começamos a ver os primeiros hornbill (aves encontradas na savana)
Á chegada a kayes dirigimo-nos á policia especial, num edifício colonial, muito degradado. Á porta como é frequente as ovelhas presas ao muro! Um dos oficiais orientou-nos numa sala, cuja parede lateral apresentava uma porta com uma grade trancada com um ferrolho, que dava aceso a uma cela. Espreitando por ela, um prisioneiro á moda antiga. Parecia uma cena de filme, o olhar dele tão inexpressivo, como que arrependido…
No caminho para Bamako, havia algumas portagens a pagar apesar da estrada esburacada, de modo que só conseguimos chegar a Sandaré a 120 km de kaes. Cansados e poeirentos decidimos parar ali, no hotel comunitário da vila.
Tínhamos o parque todo para nós e mais uma serie de sapos que comiam mosquitos onde há luz. Contei de uma só vez 16… pequeninos e sempre em movimento.
Mais tarde chegou um jipe com 3 pessoas, dois deles fardados e com uma Kalashnikov cada um ao ombro. Cumprimentaram e pareciam bem-dispostos, um pouco cambaleantes… até a arma se mexia demasiado! Um deles de tão desorientado até rezou no sentido oposto a Meca, sendo motivo de risota geral…
No dia seguinte seguimos para Bamako, 462 km até Bamako. A paisagem é muito verde, com mais baobás e a terra vermelha característica de África. Passamos por muitas vilas em que os miúdos acenam em grande algazarra.
Faltavam já poucos km até Bamako, quando vimos na berma da estrada uns miúdos com uns instrumentos que consistiam num pau com vários pedaços redondos de uma cabaça seca, fazia um som oco, muito agradável… um show para nós.
A entrada em Bamako é caótica como se estava a prever. Tentamos perguntar informação a um polícia sobre a embaixada do Burkina Faso, e ele de forma muito rude disse que eu deveria ter saído do carro para pedir a informação e não eles a deslocar-se. Ri-me e disse que não percebia francês, o que o deixou mais furioso ainda…
Com a ajuda do GPS e um pouco ao engano chegas a um Camping chamado Djabila, que agora é o Relais Bamako Plage, á beira do rio Niger, muito agradável, com uma piscina africana que foi uma surpresa.
Conhecemos uma cooperante espanhola. Trabalha para uma ONG e perguntamos o que fazia: umas coisas: com mulheres, micro credito, alfabetização e um pouco de saúde… Ora ai está! Entendo bem porque sou um inútil nesta coisa das ONG, sou muito específico, não sei fazer tanta coisa ao mesmo tempo, basicamente não tenho valor. Revolta a história das ONG… Espero que o trabalho em Moçambique se solidifique
No dia seguinte conseguimos o visto do Burkina Faso que ficou pronto em 2 horas, e de seguida o do Ghana que nos entregaram em 1 hora. O facto de não sermos residentes fez com que tivéssemos de pagar 80000 CFA cada um.
Demos boleia a um alemão que se dirigia a sua embaixada. Para o deixar o alemão cometemos uma pequena infracção observada por um polícia. Já sabíamos que a polícia era um pouco corrupta em Bamako e logo aí tivemos a prova disso. O polícia depois de ver os papéis disse: Q’est que on va fair por ça? Ao que eu respondi: 2000 CFA ce bom pour toi? E assim foi, sinto-me mal ter que jogar o jogo deles, mas para nos deixarem seguir caminho por vezes tem que se entrar neste sistema terceiro mundista.
Quando tentávamos trocar dinheiro num banco próximo reparamos numa carrinha azul, cuja porta escrevia a branco “Programme Shisto”. Seguimo-lo e apresentamo-nos como Urologistas Europeus, com alguma experiência Africana nessa área, sobretudo no tratamento de complicações de Schistosomiase Uro-Genital. Chama-se Dr. Moussa e dirige um laboratório no centre ville, de parasitologia, dedicando-se a pesquisa epidemiológica na área da Schistosomiase. Foi muito simpático connosco, muito interessado no nosso trabalho, e ficou particularmente entusiasmado quando lhe dissemos que também fazíamos ecografia Urologica, útil para a recolha de dados epidemiológicos no terreno. O facto de conseguirmos tratar as complicações da doença seria uma mais valia. Acabou por nos dar o contacto de um Urologista do Hospital Gabriel Toré, um dos grandes de Bamako, para no dia seguinte o contactarmos.
Apanhamos um táxi até ao Grand Marché. O taxista era um homem muito bem-, com uma gargalhada entre frases. “Oui, Bamako c’est bien”! O mercado, um caos, não avia um turista que fosse. Ao lado existe uma rua, onde são vendidos todos os artigos possíveis e imaginários para práticas de bruxaria. Há bancas com peles de animais, ossos, cabeças de crocodilo, de macaco ou outros animais cuja pestana pode ter utilidade na magia.
No dia 12 de Outubro, saímos em direcção ao Hospital Gabriel Toré. O típico hospital de uma capital Africana. Muita gente, sentada pelos cantos, no chão e sobre panos. Chegamos á consulta externa, um corredor, estreito, mas muito longo estava completamente cheio de doentes, de pessoas com um saco de radiografias, esperando a vez de ser chamadas.
Falamos com o urologista, do trabalho que eles fazem e percebemos as limitações dos 3 urologistas do Hospital principal da capital do Mali!.
Seguimos para Segou. A saída demorou, pois Bamako parecia não terminar nunca mais. Paramos em Segou Koro. Visitamos a vila depois de pagar a oficial taxa de 2500 CFA cada ao chefe da vila. É uma vila onde teve origem a cultura Bamara. Na casa do chefe vimos uma tartaruga presa por uma corda. É sagrada e tem 46 anos.
É uma ldeia em adobe, em tons ocre e avermelhados, onde vivem cerca de 6000 pessoas. Tem muita vida, as mulheres nas lides habituais de África, com o pilão, a tratar dos cereais, ou dos filhos que sempre transportam. Gostamos muito não fosse a insistência do povo em que lhe déssemos um cadeaux. É pena que assim seja, é um sintoma do turismo, que ao oferecer o primeiro bom-bom regulamenta para quem vive tão precariamente a regra básica do turismo: Ocidental tem presentes para dar!
Voltamos a estrada em direcção a uma terriola chamada Bla, onde supostamente haveria um camping… Mentira. Estamos agora mesmo acampados, junto a um edifício vigiado, por um homem muito simpático. Há uma casa de banho africana (buraco no chão) e água que se retira de um profundo poço.
Está-se bem, está fresco e há menos mosquitos. O senhor já dorme, a cerca de 40 metros de nós deitado no chão, coberto por uma manta e com a típica cafeteira de plástico cheia de água a seu lado! Amanhã seguimos para Djenée!
Simplesmente fabuloso!!
Só falta a voz de fundo do Eládio Clímaco, para ser um inebriante comentario BBC/ National Geographic!
As vossas descrições são verdadeiramente Queirosianas!!
Fantástico!!
Muita, muita sorte, que certamente vos abundará, pois a “sorte protege os audazes”!!
Beijinhos
Gabi, Pedro, Ines e Bia
Olá Carlitos e Pablo!
Ainda bem que não entendem nada de ONG’s, nem pertencem a nenhuma! Os títulos e os rótulos são para quem previsa de dar muitas explicações sobre o que devia fazer e não faz, vocês felizmente não precisam disso, seguem a vossa intuiçãoe vão à procura de quem precisa da vossa ajuda. As almas de Luz nunca poderão estar presas nem ao serviço dos senhores das trevas. Sigam o vosso coração , disfrutem esta experiência pensando como Torga, ” em qualquer aventura o importante é partir”
Beijos, temos muitas saudades, mas sabemos que “o sonho comanda a vida” e “façam o favor de ser FELIZES, ”
Zibnha
gostei mt,das fotos,das cronicas.parecem pessoas felizes.. pelo menos as crianças estao sempre a sorrir.. bjs