Quando chegamos ao desvio para Djenne, entramos numa estrada de terra batida, cuja paisagem voltava a ser a vida rural. Os pastores são imensos, com grandes rebanhos de cabra e manadas de vacas.
Para chegar a Djenné é necessário atravessar o rio Niger num ferry. Enquanto esperamos aproximou-se de nós um homem (Yussef), que vive em Djenné. Em troca de 7500 CFA, com almoço em sua casa, concordamos em que ele nos ajudasse na aldeia. Djenné é Património da Humanidade. É uma cidade em adobe, com uma enorme mesquita, também de adobe. Yussef levou-nos a pontos estratégicos de onde a vista para a mesquita era melhor.
Pelas ruas da aldeia há crianças por todo o lado, misturadas com burros e cabras que se atropelam pelas estreitas passagens. No centro das ruas regos de água desviam aquilo que nos parecia esgotos.
Na casa de Yussef estava a mulher com 3 filhos de 5,3 anos e o mais novo com apenas 2 semanas. Aí almoçamos com as crianças, arroz e peixe seco. A visita foi muito agradável, acabando de novo no ferry. Regressamos á estrada que nos levaria mais perto do país Dogon outro local a visitar do Mali.
Dormimos em Sevaré, onde aproveitei para ligar a Portugal, para desejar um bom aniversário a minha sobrinha Laura que cumpria 6 anos.
No dia 14 de Outubro decidimos não ir a Timbuktu dada a distância, a má estrada e sobretudo a presença de atentados da Al-Quaeda. Fomos para o Dogon Country um dos pontos mais interessantes do Mali! É um mundo aparte. As vilas de adobe construídas na Falésia de Bandiagara, são um espanto. Com a ajuda de um rapaz que conhecemos em Djiguibombo visitamos várias vilas (Djiguibombo, Kani-Kombolé e Teli). Na falésia vêm-se algumas casas minúsculas bem no alto, onde viviam os antepassados, uma etnia de pigmeus, a quem chamam “Teles”. Pela falésia distribuem-se casas em adobe, junto com os celeiros onde guardam os cereais.
Depois de deixar o rapaz, chamado Soumila continuamos nós pelo país Dogon. Passamos em Endé, Bagrou, Yaba Talo, Dondoro, Guimini. A partir daí disseram-nos que o caminho era mau, com areia e curvas. Não percebíamos bem o porque de espanto quando dizíamos que íamos sozinhos até Yawa, onde queríamos pernoitar. Rapidamente percebemos a dificuldade, quando começamos a atravessar dunas de areia. A paisagem deslumbrante, mas difícil de atravessar. Chegamos a Yawa, orientados pela falésia e pela bússola, tentando acertar no caminho certo. Subimos até a aldeia que se encontra no topo da falésia, onde dormimos, quase suspensos no bordo da falésia, local do acampamento.
No dia seguinte, 15 de Outubro, saímos em direcção a Bandiagara, demos boleia a uma mulher com o bebé as costas e um balde á cabeça. Quase todas as mulheres em idade fértil têm um filho pequeno que atam às costas com panos coloridos.
Depois de Bandiagara onde um polícia tentou retirar-nos, sem sucesso alguns CFA seguimos para Koro. O caminho de terra batida tornou-se um pouco aborrecido. Pelo caminho vêm-se nas poças meio secas, homens e crianças aproveitando a lama que ainda resta para fazer tijolos, que vão depositando a um canto de forma muito ordenado para secarem ao sol.
Em Koro atravessamos a fronteira com o BURKINA FASO. A saída do Mali foi simples. Vinte km depois chegamos a fronteira do Burkina Faso. Longa esta terra de ninguém! Já aqui se nota a influência da igreja católica, pois brincaram com o nome do Jesus Pablo. Na secretária de um dos polícias havia tinha na mesa uma pequena bíblia velha, com letras pequenas que provavelmente lia nos momentos mais aborrecidos. Na parede atrás dele a fotografia mal nítida de 4 rapazes, com o título:”Al-Quaeda, Wanted, Chercher”.
Estávamos a entrar no antigo Alto Volta. Em 1982 um chefe militar de nome Thomas Sankara decidiu mudar o nome para Burkina Faso, que significa “terra dos incorruptos”. De facto o Nome do país está bem aplicado, quando comparado com outros países vizinhos.
Chegamos á capital, Ouagoudougou, ao fim da tarde. A entrada na cidade foi complicada devido ao trânsito, dominado r bicicletas e mobiletes! Dormimos no Pavillon Vert, local de Backpakers.
No dia 16 de Outubro, domingo percorremos esta capital de nome estranho em bicicleta. Encontramos uma oficina de bicicletas onde convencemos o dono em troca de 4000 CFA a alugar 2 bicicletas durante o dia.
Começamos a caminhada, pelas ruas de Ouaga. Tínhamos muita vontade de o fazer e deu para matar saudades das viagens de bicicleta. Percorremos grande parte da cidade, perdidos no meio de mobiletes e outras bicicletas que inundam a cidade. Visitamos o estádio municipal, o palácio do presidente (onde não nos deixaram entrar) e aproveitamos para beber uma Brakina (cerveja local) num espaço próprio (terraços ao ar livre, com uns toldos, usados por habitantes da cidade, onde se bebe cerveja e comem uns tubérculos cozidos parecidos com batatas). O jantar foi num desses restaurantes ao ar livre, com muitas motas estacionadas na frente.
No dia seguinte (17 de Outubro) depois de percorrermos a cidade durante 2 horas lá conseguimos chegar á embaixada da Nigéria. Em 1 hora 2 controlos policiais. O primeiro tentou a sua sorte dizendo que não tínhamos parado no semáforo, ao que respondemos convictamente que ele estava enganado e que tínhamos parado no semáforo, que tínhamos respeitado os sinais. Apercebeu-se que não levaria nada nosso e deixou-nos ir. O segundo tentou de igual forma retirar-nos alguns CFA, mas como tínhamos toda a papelada em ordem não soube com que implicar. Afinal na terra dos incorruptos conhecemos a excepção da regra!
Na embaixada, aconselharam a pedir o visto no país anterior, ou seja no Benin. Decidimos sair da cidade, logo após trocar alguns Euros e fomos para Bobo-Dioulasso. Pelo caminho o que mais nos marcou foram as motas que passavam cheias de galinhas, completamente amontoadas umas sobre as outras.
Quando chegamos a Bobo ficamos na casa África, um sítio acolhedor, mas um pouco chato pela permissão do dono de entrada de rapazes em motas que tentam convencer-nos a serem os nossos guias. Visitamos o Grand Mosque, uma mesquita do século XVIII, em adobe. Foi pena, a chatice que tivemos com um desses rapazes insistentes em ser guias que nos acusou de racistas quando lhe dissemos que não. Escusado será dizer como esta crítica me ofendeu. C’est Afrique!
No dia 18 de Outubro fomos para Banfora. Pagam-se portagens para percorrer a estrada. Á chegada a Banfora, começamos a ver muitas mangas á venda. Se um carro pára é verdadeiramente assaltado pelas vendedoras que querem ser as primeiras a chegar para vender o seu artigo. É engraçado, mas algo confuso, quando diversas mãos com sacos de fruta ou bananas soltas nos entram carro dentro ficando a centímetros do nosso nariz.
Em Banfora, visitamos as cataratas de Karfiguela (1000 CFA). O acesso por um caminho entre a floresta. As cascatas são imponentes. Do topo das mesmas a vista é impressionante. Mais acima pequenas cascatas sucessivas formavam lagoas naturais onde as pessoas se banham. Ficamos por ali algum tempo contentes com tal surpresa. Foi sem duvida uma manha e inicio da tarde muito bem passados.
Descemos até ao carro pelo caminho inverso. Compramos 2 papais e bananas por 0,70 Euros e dirigimo-nos para uma aldeia de Fabedougou, onde umas formações rochosas (limestone) se erguem entre a vegetação. Provavelmente o resultado da acção da chuva e vento, da erosão de milhares de anos.
Regressamos em direcção ao lago Tengrela. Pelo caminho os miúdos que regressavam da escola gritavam “Le Blanc, le Blanc…” e cumprimentam de mão no ar. Encontramos na aldeia um acampamento local, de nome Kegnigohi. É o nome do avô do dono, um homem de 50 anos, bom conhecedor da região e apaixonado pelo Ghana. A aldeia é Senoufu e tem uma arquitectura tradicional, com pequena cabanas redondas com tectos de palha cónicos, que se dispões em redor de um átrio. No final da tarde fomos até ao centro da aldeia. As pessoas não gostam de fotografias e pedem de imediato um cadeaux. Conclusão: não há fotos!!
No dia 19 de Outubro fomos com o filho do dono do acampamento dar uma volta no lago, de piroga. Eram 6 horas e já remávamos no lago, tentando encontrar hipopótamos. Ouvimos, mas não vimos! O lago é muito bonito, com 9 metros de profundidade máxima e uma paisagem circundante muito verde. Na água há muitos nenúfares, uns que abrem de noite (brancos) e os que se abrem durante o dia (violeta). Valeu a pena, pela quantidade de pássaros visionados, pelo silêncio apreciado e pelo nascer do sol assistido.
Seguimos viagem com ideia de entrar no Ghana por uma estrada menos conhecida. Tomamos a direcção de Diebougou. Estávamos a prever uma estrada esburacada e em péssimas condições. No entanto estava em boas condições. Antes de deixar o Burkina Faso decidimos fazer um almoço á beira da estrada, uma vez que tínhamos gelo, cerveja fresca (Brakina) e pão. Descobrimos um sitio agradável á sombra de uma árvore.
Um acontecimento frequente em África é o aparecimento de pessoas em qualquer lado, no sítio que se pense que a probabilidade de encontrar alguém seja nula, lá aparece uma criança ou alguém que acaba por parar, observar e as vezes falar. Claro que no final do almoço já não estávamos sozinhos. Havia um grupo de mulheres e crianças que dificilmente comunicavam. Por fim, com ajuda da máquina fotográfica houve alguma comunicação. A miúda mais pequena dos seus 2 anos gritou quando me aproximei. Provavelmente nunca tinha visto um branco tão perto e teve medo!
Seguimos e rapidamente chegamos a Hamele. A saída do Burkina Faso foi rápida e eficiente. Continuamos mais a frente onde um arco dizendo “Welcomme Ghana” nos deu as boas vindas… Foram as únicas pois aí começou a nossa saga de tentativa de entrar no Ghana. De facto, desde há 2 meses que só admitiam entrada de carros estrangeiros no Ghana com Carnet de passage, que nós não tínhamos… Qual a solução? Voltar para o Burkina Faso? Ser escoltados pela Policia até Accra (800 km), pagando o valor da escolta (150-200 Euros), ena capital tentar resolver o problema, sem saber ao certo se haveria solução. Ficamos um pouco de tempo á espera se haveria a tal escolta e um pouco desesperados com a situação e com a ideia de que estávamos a ser barrados na entrada de um país que de facto não era necessário ser atravessado para o nosso propósito, perguntamos se poderíamos voltar a polícia do BF para saber se nos anulariam o carimbo da entrada. Assim foi, regressamos ao Burkina Faso, passando pelo mesmo arco, mas que agora dizia “ Thanks for your visit”. Pisamos solo do Ghana, mas quase sem visita!
Voltamos a Ouaga. Muitos buracos, muito solavanco, muito desvio para não atropelar galinhas ou cabras. Passamos Leo e a estrada melhorou, no entanto a noite caiu e tivemos que conduzir cerca de 160 km na escuridão total, lidando com os máximos dos camiões, que teimam em mantê-los ligados, mesmo no cruzamento com outros. É duro conduzir á noite em África, sobretudo pela circulação pedestre de pessoas e animais nas bermas da estrada, sem reflectores ou outra forma de se notar a sua presença… Custou muito!
Acampamos no Camping Pharao, a 15 km de Ouaga, vazio, sem nenhum cliente, só nos acampados sob uma lâmpada rodeada de insectos de várias formas e cores. Tal era o cansaço, que dormimos muito bem depois de tomar um banho ao relento, atrás de um galinheiro e com um chuveiro improvisado!
Olá Amigos!
Que bom ter novas nossas, já começávamos a ter um friozinho no estômago…
Ter Jesus por companheiro é sempre a melhor opção!
beijinhos e saudades
Zinha