Chegamos finalmente ao Congo. Os polícias, á paisana, carimbaram os passaportes e perguntaram se tínhamos o Manifest (documento que descreve o percurso de viagem). Não tínhamos mas não levantaram problemas. Era dia 11/11/11, portanto um dia especial… Aquele em que entravamos no Congo… Voltamos a parar em mais 2 controlos no espaço de 100 metros, o ultimo dos quais onde nos deram o passavant para o carro, pelo valor de 10000 CFA.
Ainda havia luz pelo que decidimos conduzir mais alguns km. Sabíamos que os primeiros 10 estavam em piores condições, mas conseguimos percorre-los sem dificuldade. Pelo caminho íamos passando por pequenas aldeias, pobres mas com gente muito simpática. Todos faziam algum comentário e acenavam, sobretudo as crianças que se riam e gritavam touriste… Paramos numa destas aldeias chamada Dukanga, e depois de falarmos com o chefe da aldeia acampamos mesmo em frente a sua casa. Conversamos com as pessoas, sobretudo com as crianças que nos rodeavam. Um dos netos do chefe mostrou-nos o seu quarto forrado a posters em que o Cristiano Ronaldo e outros jogadores surgiam ao lado da imagem de Jesus Cristo.
Na manhã seguinte partimos bem cedo pois tínhamos receio de encontrar maus troços de estrada, em terra batida. Um dos habitantes da aldeia cortou algumas mangas da árvore e entregou-nos desejando boa viagem. Também nós agradecemos deixando ao chefe algum dinheiro para a aldeia. Gostámos de pernoitar ali.
O caminho na direcção de Dolisie não parecia estar mau. Passamos por muitas aldeias, em cujos extremos estão as campas dispersas pelos campos, por vezes mesmo em frente as casas em adobe. Em Nyanga, uma aldeia com posto de polícia paramos para carimbar o passavant. Na esquadra expõem, num placard, as fotografias de corpos assassinados ou de ladrões perigosos, com a respectiva legenda. Estranha atitude das autoridades! Aqui tive um pequeno confronto com um polícia que me viu tirar uma foto a uma criança a quem tinha dado um brinquedo. Depois de uma conversa tudo se resolveu, mas ai percebi a dificuldade de fotografar neste país.
Estávamos contentes pois o caminho estava transitável. Começamos a pensar que íamos chegar muito a tempo a Dolisie. Isso fez-nos reconsiderar a ideia de ir a Brazzaville e tentar conseguir o visto para a República Democrática do Congo (RDC). Por isso ligamos de novo a Cônsul portuguesa em Brazzaville. A resposta foi simples. NÃO!!. “Arranjem outro percurso, pois por aqui não dá…” De facto tínhamos tentado informações de todos os lados para saber qual a situação na RDC. Concluímos que não era a altura de arriscar entrar nesse país.
Passamos por uma paisagem com muitas colinas arredondadas, cobertas de um manto verde. Não resistimos em subir a uma delas. Paramos o carro e começamos a subir uma das colinas. Desde o alto o carro parecia um ponto mínimo. Cruzamo-nos com muitos camiões, sobretudo chineses que transportam troncos enormes de madeira.
Almoçamos em Mila Mila e seguimos na direcção de Dolisie. Demos boleia a um casal que seguia a pé na mesma direcção. À chegada a Dolisie fomos parados por 2 polícias. Foram insistentes nos documentos do carro. A longa conversa com o polícia acabou com ele a pedir um “jus”, ao que respondemos directamente que não.
Não tínhamos local onde acampar pelo que reparamos no Auberge Theresa, mesmo ao lado da casa do presidente (quando ele visita a cidade). Ali ficamos por 5000 CFA, mas o ambiente era estranho e concluímos pelas conversas escutadas que estávamos de facto alojados num hotel onde os clientes recebiam miúdas conseguidas pelos empregados. Enquanto preparávamos o jantar, com a tenda aberta, no parque de estacionamento reparamos nos casais que iam chegando…
Na manhã seguinte fomos na direcção de Pointe Noire. Para trás ficava Brazzaville e Kinshasa, com os seus conflitos de momento. A estrada era recente. Obra chinesa, notando-se um trabalho árduo e intenso destes operários, com um resultado final excelente. Em certos pontos a linha de comboio que ainda funcionava entre Brazzaville e Poite Noire acompanhava-nos pelas montanhas. É um comboio perigoso, uma vez que se diz que os ninjas ainda continuam a provocar assaltos usando armamento pesado!
Chegamos a Pointe Noire cedo por volta do meio-dia. Há muitos expatriados na cidade. O grande negócio é a exploração de petróleo. Na entrada perdemo-nos no meio de um mercado, mas logo de seguida, orientados pelo GPS conseguimos chegar ao Clube Náutico, onde acampamos a porta. Aí encontramos outros viajantes que estavam na mesma situação que nós, ou talvez pior. Paul e Maria, um casal de Sul-africanos, informaram-nos da situação deles enquanto nos ofereceram um café. Estavam em Pointe Noire há 5 semanas e esperavam uma solução para seguir a viagem. Não tinham visto do RDC nem de Angola. Já tinham visto outros viajantes a desistir da viagem. Para isso, embarcavam o carro num ferry para a Europa ou África do Sul. Esta opção era cara pelo que eles preferiam sempre esperar e tentar ir por terra. Temiam no entanto o agravamento da situação na RDC, uma vez que após as eleições do dia 28 de Novembro, havia um mês de espera pelo resultado, e era o tempo suficiente para os revoltosos complicarem as situações de segurança no país. Havia um outro Paul, alemão que viajava há 8 meses. Estava também a espera do desenrolar da situação e sobretudo conseguir o visto de Angola. Para além de Paul, havia Tom e Daniel, 2 Ingleses que após terem vários problemas com os carros e sem vistos da RDC e Angola decidiram desistir da viagem.
Passamos a tarde a actualizar-nos na internet e a passear pela cidade. Falamos com o amigo Jonas que mora em Cabinda e ele confirmou que a melhor opção para a nossa situação era o avião da força aérea uma vez que o barco da empresa Mota Engil não tinha chegado ainda de Luanda.
O dia 14 de Novembro foi passado a descansar em Pointe Noire. Estava chuvoso, no entanto deu para continuar o passeio pela cidade. Lavamos o carro que estava todo enlameado, de tal forma que Paul pensava que era amarelo… De tarde a chuva parou e decidimos ir até a praia. Ainda não conhecíamos a Costa Selvagem que fica do lado oposto. Encontramos clubes privados, para os funcionários das empresas petrolíferas e que são interditos a outras pessoas. Luxuosos locais repletos de expatriados bem vestidos… Descobrimos um restaurante chinês a beira-mar, onde não resistimos a provar um caranguejo picante, com uma Ngok, cerveja local!