Benguela está a cerca de 30 km de Lobito, por uma estrada com boas condições. A cidade é bonita e muito organizada. É conhecida como a cidade das Acácias Rubras, pois durante o mês de Novembro florescem as acácias, deixando as ruas e os parques da cidade com tons de verde e vermelho. Visitamos o parque da cidade, com muitas palmeiras e a tais acácias floridas. Há duas igrejas principais, a do Pópulo, construída com materiais oriundos do Brasil e a Catedral de Benguela, uma verdadeira obra de arquitectura. Em forma prismática, com uma fachada em vidraça cónica com 3 cruzes e uma imagem de arte sacra dentro de uma moldura quadrada. Tudo isto é em betão.
A Baia de Benguela tem uma bonita marginal junto á praia Morena, onde apreciamos como as pessoas da cidade se divertem, sobretudo os miúdos, que entram na água, em grandes saltos para logo se empanarem na areia!
Por intermédio de um médico, português a trabalhar em Benguela, o Dr. Joaquim Magalhães, conseguimos visitar o serviço de Urologia do Hospital Central de Benguela, onde a escassez de recursos humanos é enorme. Há uma zona endémica de Schistosomiase, com o diagnóstico recente de tumores vesicais, que juntamente com os casos de Fistulas vesico-vaginais, resulta num excesso de doentes a tratar, não sendo suficientes os 3 Urologistas do serviço. Acabamos por conhecer o Director Provincial de Saúde, que mostrou interesse no nosso trabalho.
Passamos vários dias em Benguela, e como não há local de campismo, deslocamo-nos às praias próximas para fazer campismo selvagem. Uma verdadeira maravilha acampar em praias desertas, apenas com aldeias de pescadores que tão bem nos acolheram.
Conhecemos a Baía de Santo António, a 7 km de Benguela. É uma bonita aldeia de pescadores, onde a construção já está um pouco exagerada. Mais a Sul paramos na Caota, uma aldeia piscatória, num cenário quase desértico, com os tons ocre do chão e das montanhas contrastando com algum verde de pequenos arbustos. Na Caota há um porto pequeno, onde alguns homens tratam dos barcos, enquanto outros saem para o mar.
Por uma estrada em areia, com muitos buracos e pó, subimos até ao cimo do monte, para chegar ao que se chama a Caotinha. Daí a vista é impressionante, abrangendo praias em toda a sua extensão. Há um outro desvio, que leva a uma montanha onde se vê um pico chamado de ponta do sombreiro, dada a semelhança que apresenta com o mesmo.
Usando um desvio, disfarçado na paisagem, chegamos à Baia Azul. É uma bonita praia, com casas em construção e reconstrução das coloniais. Verdadeiros palácios de férias, ou de fim-de-semana, com acesso directo para uma praia fantástica. Gostámos tanto do sítio que foi um dos eleitos para acampar a maioria das noites. Há noite, na praia, assistimos à chegada dos pescadores, cujas mulheres esperavam pacientemente sentadas na areia, com cestos para recolher o peixe trazido.
Mais a sul, há uma outra baía com uma praia espectacular. Por estar mais longe de Benguela, não é frequentada, nem sequer pelos habitantes de Benguela. Chama-se Cuio, e é uma grande aldeia de pescadores, onde também nós resolvemos parar 2 dias. Para lá chegar seguimos na direcção de Dombe Grande. A estrada é excelente e a paisagem muito plana e desértica, apenas com algumas aldeias disfarçadas ao longe. Nota-se a aproximação das aldeias pela enorme quantidade de plásticos que com o vento ficam pendurados em pequenos arbustos. Árvores de Natal involuntárias! Parámos em Dombe Grande onde almoçamos num tasco de beira de estrada. Carne estufada com funge, num belo manjar caseiro e tipicamente africano. Conhecemos aí Malik, um francês de origem marroquina, que depois de conhecer vários países africanos, concluiu que aquele era o local onde queria estar:”… Sou feliz! Já sou Angolano! Não me quero juntar aos velhinhos franceses do lar…” Uma visão positiva e verdadeira da forma como encara a vida!
Seguimos para a estrada na direcção de Cuio. São cerca de 17 km por uma estrada poeirenta de cascalho, mas numa paisagem verdadeiramente espectacular. Deserto puro, com montanhas e planícies, muito secas e leitos de ribeiros sem água. Tinham-nos dito que era possível encontrar macacos naquela zona, mas chegamos à aldeia sem os ver. Logo a entrada da aldeia há um autocarro abandonado, junto a uma bandeira do MPLA. Mais longe também oscila uma bandeira da Unita. Os dois símbolos lado a lado!
Há uma pescaria na aldeia, gerida por um Angolano a viver em Benguela, mas parece abandonada. Grande parte da maquinaria está desactivada, pois os barcos avariaram e agora o dono compra o peixe directamente aos pescadores, para de seguida revender. À esquerda da baia há montanhas e no alto das mesmas conseguimos adivinhar as silhuetas dos tais macacos. Aproximamo-nos e realmente reparamos na enorme quantidade de macacos. A vista do alto da montanha é magnífica. A baia de Cuio é extensa e de água transparente. Conseguimos ver 4 tartarugas marinhas espreitando na água límpida. Cruzamos toda a aldeia seguindo um trilho com rodados de carros. Chegamos a um descampado, já a cerca de 4 km da aldeia, onde acampamos depois de comprar peixe às mulheres da aldeia.
No dia seguinte, dia 3 de Dezembro, passamos o dia a assistir a um verdadeiro espectáculo, num palco gigantesco, ao ar livre… Os pescadores saiam num barco, lançavam uma rede e depois, lenta e coordenadamente puxavam a rede usando a força humana. Homens e rapazes, alguns ainda crianças, atam uma pequena corda à rede, que puxam inclinados, quase paralelamente ao chão. Ajudamos a içar o barco de pesca e, assim conseguimos a confiança dos pescadores, que nos deixaram estar com eles à vontade. Para facilitar o trabalho, um dos homens cantarolava uma cantilena, ao som da qual puxavam, sem demasiado esforço, dada a quantidade de homens que ali se juntou.
Quando a rede chegou, coincidiu com a chegada das mulheres com baldes e cestos para levarem os peixes para as aldeias e ali os venderem. Havia de tudo naquela rede desde chocos, raias, sarjão, linguados e outros pequenos peixes, que foram devidamente dividido. Quiseram-nos oferecer 2 chocos pela ajuda prestada com o barco. Achamos o gesto bonito, mas evidentemente preferimos pagar os chocos, por 500 Kz. Acabamos por ficar amigos daquela gente simples. No final do trabalho, o Paulo, um dos miúdos, de cerca de 10 anos, explicou que tinham de ir a casa do dono da rede receber dinheiro: 300 Kz (2,3 Euros) para criança e 600 Kz para adulto, no entanto podia variar de acordo com a quantidade de peixe!
Na direcção do Namibe, pela costa, a estrada em terra batida, está em construção, com desvios e buracos, que a tornam cansativa, no entanto a paisagem é magnífica. Uma das noites, desviamo-nos para a Praia da Lua, orientados pela beleza do nome. Andamos por uma picada uns bons 25 km, na direcção da costa. Faz jus ao nome, pois é uma espectacular baia redonda como a Lua. É também uma aldeia de pescadores, com pessoas simples e muito pobres. Falamos com o Soba, chefe da aldeia que nos permitiu acampar num extremo isolado da aldeia.
No restante caminho até Namibe fomos parando por outras aldeias da costa, como Equimina, Lucira, Fael, Salinas e Bentiaba. A estrada continuava má, no entanto a paisagem é digna de visitar. Desértica, sem aldeias, com algumas montanhas alternando com planícies cuja estrada percorre em rectas que terminam em curvas apertadas.
Bentiaba é uma vila grande que fica na foz de um rio. Parece um oásis, com palmeiras e uma área verde entre montanhas amarelas e poeirentas. Aproximamo-nos da praia e estacionamos o carro, onde 2 burros descansavam, próximo de 2 casas e uma bandeira da Unita! O Soba autorizou o acampamento no bairro da praia. Enquanto cozinhávamos, uns quiabos refogados aparece o Soba, Tito, o João habitante local e Augusto, um pescador, mais velho e em embriaguez total. Sabia que estávamos ali pois o Soba tinha-lhe dito. Era o coordenador do bairro da praia, pelo que tinha que dar o seu consentimento á nossa pernoita. Agradecemos a hospitalidade apertando a mão, dizendo que estava tudo esclarecido e que éramos todos amigos.
No dia seguinte seguimos o caminho na direcção ao Namibe. Agora sim estávamos a entrar no deserto do mesmo nome, antigo Moçamedes. Nesse dia, depois de tomar um café, bem português na Tropicalia, decidimos fazer um passeio pelo deserto seguindo na direcção de Tombwa, o Porto Alexandre dos tempos coloniais. Com a ajuda do GPS, que apresentava nessa zona muitos pontos atractivos começamos o percurso. A estrada para Tombwa é excelente, recentemente asfaltada, com deserto dos dois lado. Viramos ao km 20 na direcção de uma pequena montanha rochosa no meio do deserto. Ao longe via-se o efeito do calor que se desprende da terra simulando um espelho no chão. Foi quando vimos a primeira Welwitschia mirabilis. É de facto surpreendente ver uma planta milenar, bonita e única nesta região de Angola e Namíbia. O que era uma, transformou-se num jardim de Welwitschias. Enormes plantas rasteiras, com folhas compridas como tentáculos que se prolongam pelo solo desértico. A lástima é a atitude das pessoas, que deixam garrafas de cerveja vazias nas plantas, estragando tão belos exemplar e a paisagem em geral.
Embrenhamo-nos no deserto, em trilhos mal delimitados e orientados pelo GPS. Chegamos a locais onde a vista é deslumbrante sobre a imensidão do deserto. Há um local, que na nossa opinião poderia ser Património da Unesco. Chama-se o Lago do Arco. Um lago em plenos deserto, rodeado de montanhas rochosas de intensa cor ocre. Um completo ecossistema de água doce. O nome deriva de uma pequena comunicação, em arco entre duas partes deste lago.
Em Tombwa, como não tínhamos onde pernoitar, voltamos a usar o sistema de campismo na praia, desta vez junto a uma associação de pescadores e sob umas árvores na areia. Acordamos rodeados de putos que esperavam a saída dos turistas, iam contando, pensando que da pequena tenda sairia uma legião de brancos… “Tem gente”, “Quantos são?”. E a curiosidade não os fez arredar pé do local.
A cidade festejava nesse dia o 157ª aniversário, estando muito calma. Tem edifícios originas da ex-colonia portuguesa, pelo que estão muito degradados, alguns pintados recentemente, mas mantêm a mesma estrutura de quando a cidade se chamava Porto Alexandre. Nesta zona da cidade o cheiro a peixe é muito intenso. Aproximamo-nos da praia, numa zona de pescadores. Na praia havia um antigo pontão abandonado e muitos miúdos a brincar na água. Apesar da beleza do local, está transformado numa latrina a céu aberto, onde não há pudor de descarregar os instintos fisiológicos em plena luz do dia!
Regressamos ao Namibe, onde passeamos um pouco, visitando o cine-teatro, o Palácio da Justiça e a igreja de Santo Adrão. Deste ponto vê-se a marginal, com um belo passeio a beira-mar. Bem perto deste local, há um espectacular edifício inacabado de forma arredondada, simulando uma Welwitschia. No tempo colonial começaram aquela obra, que seria um cinema, mas dada a guerra as obras foram abandonadas e nunca acabadas. Neste momento é usado pelos locais como casa de banho pública, que nós baptizamos como Cagodromo, sendo, sem dúvida uma pena que tal edifício tão imponente não seja recuperado, mas sim transformado na maior latrina que algum dia vimos. Para percorrer o seu interior era necessário olhar para o chão e ter sorte para não pisar nenhum dejecto mais recente… O cheiro indiscritível!
Visitamos o mercado, onde vimos as primeiras mulheres Mucobal. Aí fomos abordados pela polícia de imigração que nos obrigou a ir ao comando registar-nos, dado que éramos turistas. Por aqui se nota que Angola não é um país turístico! Se não mudam esta regra, não tardará a terem autocarros de japoneses a invadir o comando da imigração local!
A caminho de Lubango vimos muitas pessoas de etnia Mucobal. Demos boleia primeiro a 2 homens e mais tarde a uma mulher. Os homens usam um pano a cinta, e umas sandálias feitas de pneu. Transportam um pau e uma catana. As mulheres também com um pano a cintura e em tronco nú, apertando os seios com cordéis, por vezes com missangas.
A estrada de Namibe ao Lubango passa pela serrada Leba, outro ponto turístico possível património cultural da Humanidade. Desde o topo vê-se a estrada serpenteando a serra, num zig-zag desenhado milimetricamente na montanha. Magnífico!
Seguimos para Lubango. À entrada da cidade vimos a indicação para o Cristo Rei. Uma estátua semelhante ao Cristo Rei do Corcovado e de Lisboa, mas menor. Do alto a vista sobre Lubango é deslumbrante. A cidade é grande, mas muito deste alastramento é devido a musseques que surgiram nos arredores.
Já no Lubango, fomos visitar o alto da Senhora do Monte e passeamos um pouco pelo centro. Não há local de campismo acessível, pelo que pedimos para dormir no Botequim Flor do Monte, onde uma família de Angolanos, de origem portuguesa tem um negócio simples de restauração, desde há 40 anos.
No dia 10 de Dezembro foi dia de festa, o dia da comemoração dos 55 anos do MPLA, o partido no poder. Passeando pela cidade acabamos no local da festa, onde os populares vestiam T-shirts brancas com a bandeira do partido assim como bonés das mesmas cores. Éramos os únicos turistas no meio da multidão e acabamos no meio de um grupo de Mumuilas, um outro grupo tribal desta zona sul de Angola. Faziam um círculo e dançavam no meio. Mostramos curiosidade e admiração e fomos ganhando a atenção do grupo. Terminamos no círculo tirando fotos a quem entrasse na sua vez a dançar. As mulheres usam colares de missangas exuberantes e exagerados, penas na cabeça, chocalhos nos pés e mamas destapadas. Os cabelos em tranças estão cobertos de lama. Ali ficamos completamente contentes pelo privilégio que todas aquelas pessoas nos deram, de poder participar nesta festa. Foi pena a luz do sol tão intensa que contrastou demasiado as fotos.
Almoçamos nas barraquinhas de rua da festa do partido, onde conhecemos Benancio, um funcionário público muito divertido, que entre a embriaguez e o contentamento do dia nos fez rir cada vez que sacava do seu catecismo para fazer referências bíblicas. Comeu connosco, do mesmo prato, dada a satisfação e talvez fome que tinha no momento, concluindo que nós seriamos “ trigo e não Joio…”
Após a festa dirigimo-nos a Tundavala, onde 3 miradouros permitem observar uma falésia, com uma altíssima fenda entre duas escarpas. Resolvemos ficar no parque de estacionamento até que a lua cheia subiu como um enorme bola de fogo. Era o sítio ideal para pernoitar. O vento dificultou a sessão gastronómica, mas concluído o jantar recolhemo-nos na tenda, em plena Tundavala! Na manhã seguinte, demos uma pequena caminhada pela montanha, sentando-nos naquela varanda natural, com vista ao verde manto africano!
Depois de estar com os grupos tribais na festa do MPLA surgiu a curiosidade de saber onde vivem e o ambiente em que vivem. Sabíamos que a maioria destas tribos são da zona de Huila e Chibia e por isso tínhamos vontade de ir até lá. A estrada até Huila está em boas condições, excepto os 7 km finais, esburacados e enlameados. Em Huila visitamos as cascatas, onde um grupo de rapazes, nos pede dinheiro para pão. Fizemos ouvidos duros, enquanto víamos as cascatas, mas de facto estávamos pouco a vontade, pelo que depressa voltamos ao carro. Os miúdos voltam a pedir, e foi quando tenamosi ali uma lição de moral, talvez incorrecta mas explicando que pedir não é solução, que devem fazer algo por merecer o dinheiro, seja orientar os visitantes na cascata seja vendendo alguma coisa, como por exemplo cestos de vime que um deles demonstrou saber fazer. Acabamos por dividir, entre eles, o pão que trazíamos.
Voltamos a estrada principal e depois de uma tentativa de percorrer a estrada até Matala, resolvemos desviar-nos na direcção de Chibia, uma cidade pequena, parecendo pouco interessante. Enquanto estacionávamos o carro em frente à única pensão da cidade, ouvimos um estrondo, ficando com o carro desnivelado. O carro pura e simplesmente acabava de cair ao chão. O Pablo saiu para ver o que se passava, uma vez que era eu que conduzia e diz-me: partimos o amortecedor, uma vez que o guarda-lamas encostava no pneu. De facto o que encontramos foi o triângulo de transmissão a direita desencaixada e no chão onde fez um buraco no alcatrão.
Ficamos desesperados, sem saber o que fazer. Não havia mecânico em Chibia e sendo domingo era difícil encontrar algum em Lubango. Depois de 17000 km sem um furo, temos uma avaria aparentemente grave e nós com apenas 3 dias de visto em Angola. Menos mal que não foi numa das estradas em terra batida, onde não passa ninguém. Afinal havia sorte e esta não ficou por aqui. Precisamente nesse momento estaciona atrás de nós um casal de portugueses que ia almoçar na pensão. São O Carlos Sousa e a Susana, do norte de Portugal a viver e trabalhar para uma empresa de Lubango. Para esta empresa trabalham também mecânicos da Toyota. O Carlos Sousa com um telefonema conseguiu que dois desses mecânicos viessem de Lubango ver o que se passava. Enquanto esperávamos, almoçamos com eles e tratamos de conhecer-nos. Surpreendente a coincidência que foi a nossa sorte, pelo que agradecemos a amabilidade disponibilidade mostrada.
Chegaram entretanto os mecânicos. Observaram a avaria, e concluíram que havendo a peça no dia seguinte se resolveria facilmente. Bebemos duas rodadas de cerveja com eles, que nos falam da vivência em Angola.
Após elevar o carro com o macaco. Jantamos na rua, sobre o olhar atento dos guardas da pensão. Parecíamos desalojados, sem recursos … mas isso não importava, o que de facto esperávamos era resolver o nosso problema no dia seguinte…
No dia seguinte, enquanto esperávamos, conhecemos Esteban, um galego a viver em Chibia, há 15 anos. Exporta granito, possuindo uma empresa em expansão. Após a chegada dos mecânicos, e de resolverem o problema, o Esteban convidou-nos a almoçar em sua casa. À sombra de uma árvore, no seu jardim, almoçamos, enquanto o seu mecânico, emigrante português e curiosamente de Amarante, fez uma breve revisão da parte do motor do carro. Não sabíamos como pagar esta divida ao Esteban e a sua hospitalidade. Apenas pudemos contribuir com o que sabemos… para isso, fizemos uma rápida observação clínica das “partes” dos 5 filhos do Esteban, dada a dúvida deste quanto a circuncisão. Alinhamos os rapazes como na tropa, calças abaixo e sobre a mesma sombra da árvore avaliamos um a um… Tudo em ordem! Apenas medidas preventivas!
É o momento de agradecer a todas estas pessoas que nos ajudaram nesta pacata cidade do sul de Angola! Obrigado a todos pela simpatia e amizade!
Despedimo-nos e seguimos mais para sul, em direcção a Cahama. Passamos por muitas aldeias e reparamos em algumas Mumuilas que circulavam pelos caminhos no mato. Desviamo-nos para o interior saindo da estrada principal, que se transformou em pista de más condições. Íamos na direcção de Otjinjau. Passamos por algumas pessoas da etnia Mundimba, que andam em tronco nu, com colares de missangas e um pano que serve de saia. As mais pequenas, usam no cabelo missangas parecendo simular uma peruca. Transportam trouxas a cabeça, certamente com produtos que vendem nos mercados.
Chegamos finalmente a Otjinjau. Decidimos acampar junto a um forno da aldeia onde acabavam de cozer pão. Passeando pela aldeia encontramos uma lanchonete, onde acabamos numa pequena festa. Éramos nós, juntamente com os 2 rapazes empregados da lanchonete, mais um grupo de Mundimbas que ali se aproximaram pela curiosidade. Entre a música, dança, Ngolas e as fotos passamos ali um bom momento, inesperado. Alguns comiam, dançavam, bebiam, riam… e nós no centro daquela barafunda tribal em Otjinjau! Grande momento!
No dia seguinte, saímos da aldeia em direcção a Chitado. Demos boleia à professora Ana, de Chitado. Esperava em Otjinjau há 5 dias, sem nenhuma boleia passar. Pelo caminho contou-nos as dificuldades que teve perante o funeral da sua mãe, naquelas remotas paragens. Sem dúvida um interessante capítulo de um livro.
Estávamos a aproximar-nos de uma zona de Muchimbas, uma etnia frequente nesta região, em que as mulheres cobrem os seus corpos de uma mistura de gordura e pó de uma pedra, para se protegerem do sol. Um primo da professora Ana casou com uma Muchimba pelo que aproveitamos para os visitar. Um mundo aparte. Não falam português, apenas um dialecto próprio. As mulheres são quem trata das casas, dos filhos e dos animais, mantendo a elegância e ostentando adereços próprios, com a classe e altivez de uma mulher da civilização mais evoluída!
Foram muito simpáticos connosco e prometemos voltar. Levamos a Professora Ana a casa. Em Chitado há uma mistura de Mundimbas e Muchimbas! Numa mercearia local, onde compramos bebidas frescas conhecemos um grupo de Mundimbas, que ali ficaram connosco, conversando, bebendo e rindo… A rotina daquele povo, quebrada por dois brancos curiosos que eles bem receberam.
Voltamos a aldeia Muchimba, onde ficamos a dormir. Sem comunicação verbal possível, mas com desenhos e gestos mostramos a tenda, finalmente o chefe da família percebeu que íamos pernoitar ali. Ficamos afastados, para não interferir com a vida habitual deste espectacular família, com 10 filhos! Apenas 2 raparigas, adolescentes, já adereçadas como adultas, com os corpos cuidados e os cabelos devidamente ungidos na lama protectora!
No dia seguinte, partimos para a fronteira assim nos despedido deste espectacular país, sem turismo, mas com todo o potencial para ser um local que um dia atrairá muitos turistas aventureiros.
As formalidades fronteiriças, em Ruacaná foram rápidas e eficientes de ambos os lados. Estávamos assim a entrar Namíbia, o 14º país desta Odisseia!
A leitura das vossas peripécias tem sido um verdadeiro prazer mas confesso que Angola é um bocadinho mais especial. E agora nesta parte quando chegam à minha Sá-da-Bandeira (Lubango), minha terra natal e que eu, sem conhecer verdadeioramente, conheço também. E voltar a ouvir falar da Senhora do Monte, da fenda da Tundavala, da Serra da Leba relembra-me que me é imprescindível ir aí. Agora, claro, estou à espera das fotos dessa parte. Vai ser como rever os álbuns de casa dos meus pais.
Grande abraço e continuação de boas viagens.
Ele há gajos que nasceram com o c… virado para a lua!!!
O que vos desejamos é que continuem sempre assim.
Já agora aproveitamos para vos desejar um MUITO FELIZ NATAL por essas terras africanas maravilhosas.
Meninos, um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de novas e boas aventuras.
Continuação de boa viagem e continuem a escrever que a gente por cá está a seguir religiosamente.
Beijinhos meus e da Carlinha.
Ol’a estamos no NaTAL !A vossa aventura continua fabulosa ! BOM NATAL com muita magia e alegria!BJS HO HO hO
Para bens a vaces por esta viajem empreendida. Quero dizer que para um emigrante como eu, Angola e’ um prato que deixaste de tomar durante um grande espaco de tempo. Entretanto voces provam e sentem o bom sabor que nos ja nao sentiamos ha bastante tempo. Com isto nos dizem indireitamente, voltem, provem de novo o que e’ bom. Saudacoes irmaos. Que Angola seja com ajuda de todos um lugar em que todos nos respeitemos uns aos outros, nao importa a sua origem.
Toni Dows. Desde Londres com amor. Email: a_palancanegra@yahoo,es