Suscitou-nos o interesse por Buzi, a quantidade de doentes transferidos para o nosso Serviço, no Hospital Central da Beira! Logo numa das primeiras oportunidades, visitamos, durante um fim-de-semana, esta aldeia perdida na província de Sofala.
Parece perto, para quem olha no mapa. Da janela de casa, da Ponta Gêa, adivinha-se a costa do outro lado, na foz do rio Buzi. O GPS em linha recta refere que está distanciada em apenas uns 30 km… mas não é bem assim! Para lá chegar, os km aumentam consideravelmente.
Pela via terrestre, saindo da Beira na direcção de Inchope, há um desvio na aldeia de Tica que conduz, por uma estrada de terra batida até a aldeia de Buzi! São cerca de 150 km percorridos. A savana seca, é a paisagem que ladeia a picada. Pelo caminho são muitos os habitantes da região deslocando-se a pé ou em bicicletas, que usam para transporte pessoal, de carga ou até de animais. Era altura das queimadas e o céu cinzento de fumo deixava cair faúlhas negras. É uma zona em que se produz carvão, que devidamente ensacado é exposto, ordenadamente, para quem estiver disposto a comprar.
Chegando á aldeia de Buzi, uma pequena povoação na margem do rio de mesmo nome a primeira paragem foi junto ao rio, onde os barcos atracados esperam por passageiros para a margem sul do rio, onde fica a povoação de nome Nova Sofala. O rio Buzi com cerca de 250 km serpenteia pelas províncias de Manica e Sofala, para desaguar junto a esta aldeia, formando um estuário. É habitado por hipopótamos e crocodilos, que muitas vezes atacam os habitantes. Na aldeia não se avistam com facilidade, mas há sempre alguém que conhece uma história de quando o crocodilo atacou!!!
Junto ao rio fomos vendo a rotina da aldeia e sobretudo dos pequenos barcos que circulam entre as margens. Não é frequente aparecerem turistas na aldeia. Quem vai a Buzi significa que tem algum motivo, que não seja apenas pura curiosidade pelo ambiente rural Moçambicano! Pois este era o nosso caso…
Ao entardecer foi necessário encontrar poiso para a noite que se aproximava. No pequeno hotel da aldeia, apesar de um amplo espaço, onde poderíamos estacionar e armar a tenda, surpreendidos pela pergunta, disseram rapidamente que não… só dormindo nos extremamente caros quartos, para as condições precárias apresentadas. Muito menos com um cão! Mas rapidamente alguém se prontificou para nos ajudar e em escassos minutos estávamos a estacionar o carro entre as casas dos habitantes. Um jardim de coqueiros, com crianças a brincar por todo o lado. João disponibilizou o pátio da casa de sua tia para montarmos o nosso acampamento.
Ali ficamos o fim-de-semana em plena aldeia de Buzi, perdidos no Moçambique rural! No centro da aldeia, as antigas casas coloniais mantêm a estrutura original. As pessoas circulam, por uma avenida separada por um pequeno jardim central, entre as casas, o rio, o mercado ou a mesquita. Na hora da chegada, entrando no mercado, percebemos que tinha sido dia de matança de gado. Ainda jazia a cabeça do bovino sobre a prateleira de mármore do mercado central, esperando pelo último comprador.
Amanhece cedo e com a luz do dia as mulheres despertam para as lides domésticas. É necessário varrer os pátios das folhas caídas, recolher água da bomba mecânica para lavar a roupa e a loiça do dia anterior. Os miúdos, entretanto, preparam as brincadeiras no dia de “folga” que se avizinha. Aros de bicicletas, pneus, cordas e as obrigatórias bolas, são os brinquedos destas crianças.
As bolas despertaram-nos particular interesse, sobretudo na forma com que são manufacturadas. Um fio entrelaçado cria uma trama esférica que obviamente necessita de um suporte interno, uma câmara-de-ar, que lhe permite saltitar. Quando perguntamos a um miúdo de que era feita responde: “Com jeito…” Obviamente que tem que haver jeito para fazer uma bola daquelas, mas ao que ele se referia era ao interior da trama de tecido que resultou em esfera. São 2 preservativos da marca “Jeito” preenchidos por ar que constituem a câmara-de-ar das bolas dos miúdos de Buzi! Daí que só quem tem “jeito” pode, ali, jogar á bola!
Era altura dos Baobás darem fruto. Paramos á sombra de um baobá, onde um grupo de miúdos recolhia o fruto desta enorme árvore! Abrindo a grande semente descascam o fruto, com textura semelhante a um suspiro, com um sabor amargo, mas conhecido pelas suas propriedades anti-diabéticas. Mais uma paragem e uma luta por uma foto, destes simpáticos miúdos da aldeia de Buzi!
Já poderíamos assim, localizar no espaço o local de onde alguns dos nossos doentes chegam, esperam e voltam já tratados para junto da margem do rio Buzi!
1 pregunta de logista: la canción en el vídeo de los camellos (animales), de quien es? …(es re wapa). Salut!
Wild Beasts – Lion’s share – ALBUM: Smother